quarta-feira, 27 de agosto de 2008

EU E OS DISCOS VOADORES


EU E OS DISCOS VOADORES
Francisco de Souza Filho (Bila)


Comecei estudar aos sete anos, essa era a idade padrão da época, diferente de hoje onde a criança vai a escola aos dois anos, fazer não sei o que. Foi o meu primeiro contato com a professora, dona Apolônia, um misto de mestra e torturadora, munida de seu instrumento de tortura, uma palmatória feita de madeira de lei, já que naquele tempo toda madeira era, por motivo de não haver essas de hoje chamadas de aglomerado e outras siglas que tornam a madeira sem valor, e sem a devida competência para deixar a mão de uma criança em brasa, a palmatória para os menos desavisados, tinha na parte superior a forma de um circulo que não se completava de onde saia o cabo, se assemelhando a um girino ou sapo de rabo gigante, manejado nas mãos de dona Apolônia, após uma pergunta não respondida ou que levou mais de dez segundos para ser cuspida, enchia os olhos da criança torturada de lagrimas ao sentir na palma da mão o impacto da dita cuja, os olhos da megera brilhavam de alegria, do alto dos seus, um metro e oitenta, era como se ela tivesse vencido um gigante, sabe, eu só consigo lembrar de dona Apolônia quando assisto filme de presídio feminino e uma novata é recebida pela chefe das guardas carcerárias.Dois anos depois deixo a casa de minha avó pra onde tinha ido conhecer as primeiras letras, e retorno a casa dos meus pais, e na Ilha do Bispo, sou matriculado na escola de dona Conceição, sai de casa para meu primeiro dia na nova escola, com uma tristeza dentro de mim, minhas brincadeiras foram interrompidas para um encontro com uma nova torturadora, uma nova guarda de presídio feminino, que com seu cacetete colocado no ombro da recém chegada lhe explica como será sua vida ali. Mas ao chegar lá, meus olhos se arregalaram, ao ver dona Conceição com um sorriso lindo a me dar as boas vindas, olhei para sua mesa e não vi palmatória, voltei então o olhar para aquela jovem, um metro e sessenta e cinco, cabelos misto de loiro e castanho, lhe chegavam até os ombros, gordinha, já que mulher magra naquela época era chamada de: mói de osso, caveira, esqueleto do diabo, e quando passavam escutavam todo tipo de piada, como: “A língua não da um bife, mas as canelas da uns quinhentos par de bozó (dado de osso)” seu rosto era redondo, sua boca bem delineada, formada por lábios carnudos de onde saia o sorriso de boas vindas, os olhos brilhantes eram de um verde claro, como se fossem duas antenas transmitindo alegria, seus pés não davam para ser vistos completamente, pois mesmo estando em casa ela usava sapatos de saltos altos, o que davam uma beleza sem precedente a suas pernas torneadas, apesar de gordinha tinha cintura bem feita, subindo em forma de V até as axilas bem depiladas, e ali junto podia-se ver, o abre alas, hoje comissão de frente, um farto par de seios ainda pouco usados. Confesso, foi amor a primeira vista, e foi com ela que aprendi a ler, sem tortura, sem palmatória, só estudando e curtindo na solidão das minhas noites, um amor que ela nunca soube.Ao aprender ler, fui atraído por uma nova paixão, não que tivesse esquecido Conceição, com quem terminei o estudo primário, hoje não sei o nome parece-me que se chama fundamental, essa nova paixão foi pelas historias em quadrinhos na época conhecida como gibi, essa me segue até os dias de hoje, dos gibis das décadas de 50 e 60 eu gostava de todos, mais especialmente um chamado “O guri” nele eram publicadas varias historias, com vários personagens e trabalhados por diversos desenhistas, os quais eu identificava seus nomes apenas pelo traço do desenho, e o guri tinha em suas paginas iniciais texto apenas com alguns desenhos ilustrativos, sobre discos voadores. Foi meu primeiro contato com os óvnis, contatos estes que nunca passaram das revistas e das fotos que logo algum desafortunado demonstrando sua perícia na arte fotográfica, tratava de provar sua falsificação me deixando como um pateta após ter mostrado a foto para um cem numero de pessoas, e as quais nunca mostrava o desmentido. Vivia olhando para o céu das noites de verão, ou que não houvesse chuva sempre esperando meu dia de contato, aquele em que pelo menos uma luz estranha aparecesse diante dos meus olhos, naquele tempo não havia lá tanta tecnologia, nem grande trafego de aviões, nem mesmo luzes apontando para o firmamento, qualquer iluminação diferente seria ele, meu disco voador, mas nada, só o guri publicava mais um relato de aparecimento e o desenhista caprichava em captar toda narração do sortudo e passar para seu traço enquanto alguém escrevia a aventura vivida pelo afortunado, ou grande mentiroso. Sempre eram homenzinhos de cabeça e olhos grandes, de uma inteligência muito superior, a ponto de construir uma nave espacial e vir passar férias na terra, claro que era férias, já que sendo nos primitivos eles não tinham nada a aprender aqui, a não ser observar nossas mulatas, que já passavam ser prato do dia no Rio de Janeiro.Nunca se soube sobre as mulheres extraterrestre, se tinham ou não cabelo, onde ficava seu sexo, que devido sua inteligência bem que poderia ser em baixo do braço, o que facilitaria bastante algumas e importantes coisas, até mesmo o odor que muita gente fala, e na realidade não incomoda ninguém, mas mesmo assim um desodorante na bolsa e estaria como novo. Mas elas não são vistas nas naves, nem como aeromoças, será que em Marte, Vênus, Saturno e por ai a fora existe também esse preconceito contra as mulheres? a tal ponto de proibirem sua inscrição nos concursos de companhias de disco voadores? Eu falo desses planetas, por serem aqueles que realmente se ver, o resto é invenção de cientista quando está pra perder o emprego, na hora do aperto eles sempre dão um jeito de descobrirem um planeta novo, distantes milhares de anos luz da terra de modo que só ele vê. E eu? Nada, olhos no céu, apenas umas estrelas cadentes, se deslocam, mas nada como um prato, ou mesmo um charuto que segundo alguns entendidos são naves menores que vem no hangar da nave mãe, para passeios dos tripulantes na terra, onde podem disfarçados comprar mantimentos com notas verdes, já que segundo aqueles que mantiveram contatos é a cor preferidas dos viajantes de outros mundos.Lá pelos anos 70, apareceu um casal de mineiros, Hermínio e Bianca, que foram abduzidos por uma nave mãe vinda de um planeta distantante muitos anos luz desse asteróide insignificante chamado terra, esta historia foi contada em vários capítulos sempre as quartas feiras na TV Tupí os quais não perdi um sequer. Bianca era quem sabia contar praticamente tudo, já que ao sair do carro dentro da nave, algo foi colocado no nariz do Hermínio e ele apagou, só voltando si quando o carro foi devolvido a estrada, alias, diga-se de passagem esta é uma prática muito usada pelos extraterrestres ao abduzirem um casal, que por sinal é uma pratica de muito mau gosto, já que o marido fica sempre sob suspeita de não ter se dado bem no negocio. Mas o certo é que Bianca falava muito sobre a beleza do comandante Karran, capitão da neve estelar, que lhe mostrou toda nave, disse de onde vinha, e até lhe deu uma aula de anatomia mostrando que suas veias eram em aspirais diferente das nossas, o que inclusive lhe facilitavam na descompressão. Karran tinha mais de dois metros de altura e era de uma rara beleza, e que passou a freqüentar sua casa quando pela Terra passava em vôos comerciais ali estava o capitão Karran pronto para comer um tutu a mineira, prato que passou a adorar, e foi nessas visitas que Hermínio passou a conhecer Karran, já que na nave não teve o prazer, os contatos de Hermínio eram rápidos, já que o capitão mandava o mesmo comprar Brahma da Paraíba, sua preferida, mas coisa rara em Minas Gerais naquela época, de modos que o nosso amigo Hermínio saia pela manhã e só retornava à tardinha sem as cervejas, mas o Karran sempre compreensivo pedia para deixar para próxima vez.Chegou então a vez do ET de Varginha, alias as Minas Gerais, costuma ser palco desses acontecimentos, eu estava com um pouco de dinheiro e me preparei para ir até lá, mas é que o governo do meu pais mandou de imediato o exercito pra lá e não deixava ninguém entrar ou sair da cidade. Não se sabe porque em qualquer parte do mundo onde aparece um disco, seja ele long play ou cd, ou mesmo um ET, o governo de imediato toma conta da situação enquanto a população é orientada a dizer que não sabe nada e não viu nada, dizem que lá foi apenas um animal de estimação que escapou da nave, ora, sabe-se que pelas leis aeronáuticas é terminantemente proibida a condução de animais em vôos, será que o desrespeito as leis lá é maior que aqui? O certo é que não adiantava eu me deslocar até aquela cidade e não ver o astronauta ou o bicho seja lá o que fosse.A Paraíba também teve seus dias de Aliens, mais precisamente na cidade de Guarabira distante noventa kilometros da capital João Pessoa, por alguns meses Guará ficou conhecida como a capital dos discos voadores, vieram repórteres, rádios e televisão, de toda parte do Brasil, fizeram filmes, fotos de todos os ângulos, com as mais sofisticadas maquinas do gênero. E para Guarabira fui mandado a serviço pela maior empresa de telecomunicações do pais, a fim de averiguar algumas interferências que ali estavam ocorrendo nas transmissões, a qual se julgava serem causadas pelos campos magnéticos das naves espaciais, princilpamente quando ativavam seus campos de forças e escudos de proteção a fim de ficarem livres dos curiosos Guarabirenses e visitantes que lotavam os hotéis da cidade, a repetidora onde fui trabalhar fica na parte mais alta do município, entre aquelas montanhas, falava-se em muitas naves atracadas para manutenção. A coisa chegou a tal ponto que alguns contadores de causos, dizerem que na praça da alimentação que fica no centro da cidade, ter sido palco de grandes farras, feitas por extraterrestres vestidos em seus macacões cor de alumínio e que os donos de barracas dali, estavam até aceitando cartões de credito interplanetarios. Munido que fui, com minha maquina yachica trazida do Paraguai, pelo meu colega Jair quando no Paraná esteve fazendo curso, de pilhas novas, flash testado, filme Kodak Gold 100, e dedo polegar pronto para fazer o filme girar, iniciei a noite olhos para céu, nem piscava, lá pras tantas eles começaram a piscar de sono, nem uma luz se deslocava naquele emaranhado de estrelas, como é que pode? Mas eu devia está preparado para isso, estas coisas nunca acontecem comigo, alias eu sou tão mole que “quando deu uma chuva de sopa na cidade eu estava com um garfo no bolso” olho agora no relógio cinco da matina, nem disquinho por menor que fosse, um Etzinho qualquer, só pra matar a curiosidade deste pobre homem que passou sua vida acreditando neles, nada, guardei a maquina com filme e tudo pra tirar foto dos garotos no zôo, desde esse dia abandonei minhas pesquisas aeroespaciais, se falarem nessa historia na TV eu desligo, em revista eu rasgo e na internet mudo de site, porque na realidade não nasci pra ser um Hermínio.
Postado por fsfilho às 7/20/2008 03:04:00 PM 0 comentários

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