domingo, 27 de julho de 2008

O MENINO NO CONSULTORIO

O MENINO NO CONSULTORIO

Francisco de Souza Filho (Bila)


Ali estava eu, no consultório médico, com hora marcada para 13h, coisa totalmente sem valor para profissional da saúde, já estávamos as 13h30m e nada do Doctor, pelo balançar constante das pernas, já estávamos todos nervosos, isto sem contar os mais variados tipos de toque de celular e os tons de voz usados pelos atendentes, pois estes alem de depender do ambiente, depende também da qualidade do ouvido do portador de celular, o bicho que virou praga nesse pais. Basta dizer que um dia desses o pedinte por tocar na companhia lá de casa e não ser atendido ligou do seu celular pedindo a esmola. Ainda mais, reinava uma expectativa entre os presentes de saber quem seria atendido primeiro quando o Dr. aparecesse, porque com aquele atraso a atendente já devia ter embaralhado todas as fichas.
14h, eis que adentra a sala, uma senhora trazendo consigo uma criança, sexo masculino, branco cabelos encaracolados, também conhecido nas classificações raciais como sarará, seus olhos vivos giravam dentro das caixas para todos os lados, a observar os que estavam ali presentes. Ao descobrir um lugar vago a mulher soltou a mão da pequena fera, que, ao que parecia esperava tão somente aquele momento. Num rápido deslize, semelhante a um carrinho usado no futebol quando um jogador maldosamente tenta rebentar o outro, seu dois pés se chocaram de frente com as canelas de um velho que sentado assistia TV, este emitiu um gemido, trincou os dentes, enquanto seu olhar procurava o responsável pelo menino, nesse instante uma voz ecoou, JUNIOR! Não houve resposta alem de um sorriso maroto do capetinha, enquanto a mãe assistia um daqueles programas horríveis da TV aberta.
Quero água! Exclamou o guri, no intuito de aprender onde ficava o bebedouro, atendido que foi pela genitora tomou o primeiro de uma serie de copos dagua.
Nesse momento a bermuda dele, estava mais para preto, do que para branca sua cor original, a camisa repousava no colo da mamãe.
14h:30m, para alegria de todos era o medico que chegava trazendo na mão uma revista, vocês bem sabem como é revista de consultório, só chega após quinze dias em cada banheiro da casa do Doc. E como todo dono de clinica que se presa, sua casa tem no mínimo cinco banheiros, sem contar o restante dos cômodos onde a revista também da seu plantão, devemos lembrar também a leitura lenta dos serviçais que gozaram do direito de aprender ler. O Dr. então coloca aquela revista de janeiro, quando já estamos em julho, sobre outras mais velhas ainda, alguns desavisados tentam pegar o exemplar pensando ser novo, mas Junior no vigor dos seus cinco aninhos chega primeiro, faz um giro no corpo, com a revista dobrada ao meio, e de palmo em cima mete na barriga de uma velhinha que cochilava, diante do impacto violento, acordou assustada, seus olhos arregalados e as bochechas cheias de ar, nada conseguiu dizer, só tendo que relatar outro problema ao medico, quando chegasse sua vez. Mais uma vez a voz da mãe soou, “JUNIOR VOCÊ VAI LEVAR UMA SURRA QUANDO CHEGAR EM CASA, OUVIU!!!” mais uma vez o aviso entrou num ouvido e saiu no outro.
Neste instante do campeonato, já havia gente com os pés na cadeira ao lado, outros estavam atrás do balcão com a atendente, e todos de olhos em JR, ninguém sabia quem seria a próxima vitima.
O boy nesse momento dirigiu-se ao bebedouro, apanha um copo enche até a borda, passou a régua, mas só tomou a metade, o restante ficou em suas bochechas, que de tão cheias chegava a vazar pelos lábios contraídos, no centro da sala havia uma poltrona retangular sem encosto e em sua volta estavam as cadeira junto as paredes, Junior usou a poltrona como cama elástica, pulava e pulava, e a cada pulo atingia mais altura, a boca permanecia cheia dagua, em um dado momento perde o equilíbrio, seu corpo se projeta pra frente indo cair no colo do rapaz sentado a sua frente, quando o moço o suspendeu pelo colarinho, não havia mais água em sua boca, mas a camisa do rapaz estava toda molhada na altura do peito, Junior foi atirado ao chão, enquanto o rapaz perguntava: Esse menino não tem mãe não? Ao que ela respondeu: Tem, e eu dou educação, e ele não é assim, não sei o que ele tem hoje! O DIABO! Respondeu um cidadão que limpava os olhos com um guardanapo após ter usado colírio pra dilatar pupila. Junior continuava no chão sorrindo e mostrando o dedo indicador ao jovem, ao que tudo indica o mesmo ainda não havia treinado o uso do dedo médio com a caneta como faz todo estudante.
De repente o berro, QUERO MIJAR! Quem poderia ser? Ele, JR, Junior, cinco anos de muita peraltice, ruindade e energia pra dar e vender. Sua mãe o levou ao banheiro pela mão, mas na volta o soltou, entre a sala de espera e o corredor que leva aos sanitários, existe uma porta de vidro separando os dois vãos, Junior partiu, como um corredor de revezamento ao tentar entregar o bastão nos 100m rasos, naquela velocidade não havia como parar, e o choque foi inevitável, a porta fez um grande barulho mais resistiu muito bem, o nariz e a testa bateram no vidro que respondeu como se fosse uma parede, o grito de Juninho ecoou por toda clinica, até o medico saiu para ver o que era. A mãe levantou o garoto e dizendo aquelas coisas que toda mãe diz quando acontece eventos dessa natureza sentou-o na cadeira enquanto ele continuava chorar copiosamente.
Cinco minutos depois Junior não mais chorava, e para o desespero de todos, começou a descer lentamente da cadeira. Neste instante meu nome foi chamado pelo clinico, entrei no consultório e não mais vi Junior.

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