segunda-feira, 9 de junho de 2008

Nos Nunca os Perdoamos

Por: Francisco de Souza Filho (Bila)

É próprio do ser humano, não perdoar, embora costumemos dizer ao contrario, e olha que isso não é de hoje. Basta vermos que a milhões de anos, naquela celebre briga onde simplesmente morreu um quarto da população do mundo, onde Caim matou Abel, após ter tido sua oferenda rejeitada pelo criador (gênesis 4-4), foi perdoado pelo divino que reconhecendo sua culpa em não ter aceitado de bom grado as duas ofertas, provocou o homicídio (gênesis 4-8), (que ao que me parece deveria responder por ocultação de cadáver, tendo em vista o corpo do Abel nunca ter sido encontrado) perdoado foi então, tendo inclusive colocado uma marca em Caim, de modo que ninguém viesse a lhe matar ou mesmo ferir(gênesis 4-15). Como réu primário, respondeu pelo crime em liberdade, tendo apenas que sair do paraíso, paraíso este que já há um certo tempo tinha deixado de ser, após o Adão juntamente com a Eva haverem praticado atos tidos como pecaminosos pelo nosso Deus, sendo os mesmos absolvidos porque numa atitude de salvar a própria pele o homem pos a culpa na mulher(gênesis 3-12) e a mulher por sua vez pos a culpa em uma serpente(gênesis 3-13) que passava no instante do ato, com destino ao lago do amor, zona sul do Éden. Voltando ao Caim, nada melhor do que ter saído do antigo Éden, tendo em vista ter o mesmo encontrado uma cidade chamada Node, (gênesis 4-4-16) onde encontrou uma mulher, já que onde morava não podia se relacionar amorosamente, tendo em vista só haver sua mãe, e já naquele tempo era proibido este tipo de namoro, e o Caim teve muitos filhos e viveu feliz durante muito mais de cem anos, inclusive tendo governado a cidade que ele mesmo criou e deu o nome de seu filho Enoque.

É, ele foi perdoado pelo divino, mas nunca por nos, vejam só, vocês já viram alguém com o nome de Caim? Inclusive, o padre não batiza, alegando parentesco com o tinhoso, ou mesmo com a cobra que levou a culpa na transação da maçã, o tabelião no cartório não quer nem ouvir falar nesse nome no seu estabelecimento, embora alegue ser contra qualquer tipo de censura. Já pensaram o garoto chamando o outro na rua: Caim! e a mãe de pronto dizendo: menino, diga isso não! É pecado falar o nome do diabo! Nos já perdoamos crimes mais odiondos alegando momentos de fraquezas, mas não Caim. Lá em gênesis 4-23, Lameque, contando proeza pra suas esposas (tempo bom esse em que se colocava um s no final de esposa) informa que matou um cara porque lhe feriu e outro porque lhe pisou, possivelmente no pé, sem problema, mais com Caim não, Caim cometeu o mais vil dos crimes, um crime sem perdão. Crime tão odiondo assim só viria a ser cometido milhões de anos depois, naquele maldito domingo de junho de 1950, quando diante de mais de cem mil pessoas no maracanã e milhões outras de ouvidos colados nos rádios de válvulas, viram e escutaram o grito de gol, não se pode dizer que foi grito, foi mais um gemido, mais um sussurro, aquele uruguaio o qual ninguém esquece, e que vem passando de geração a geração, a informação de como Ghiggia calou esta nação, de como fez este Brasil chorar, porque não havia como aquela bola entrar, Ghiggia corria com a pelota quase pela linha de fundo, talvez tivesse apenas a pretensão de cruzar a bola em direção a área, pois ali dentro do gol estava até aquele dia uma barreira quase intransponível, e que se havia colocado no canto esquerdo da trave, não deixando lugar por onde pudesse passar uma bola, Ghiggia chutou e o rei dos vilões se atira para segurar a bola e ao enves disso a deixa passar por baixo de seu corpo, era BARBOSA, que naquele momento se igualava a Caim ou melhor, seria pior que Caim, porque este cometera um crime em uma população de quatro pessoas, enquanto Barbosa tomaria o gol numa população de milhões e diante de mais de cem mil testemunhas. Também por ser réu primário respondeu em liberdade, mas nunca mais teve sossego, chorou quase que todos os dias de sua vida, e sua vida foram mais de oitenta anos, achava-se até que Deus tinha colocado nele uma marca daquela colocada em Caim, já que dizem ser o criador brasileiro, Barbosa envelheceu ouvindo as crianças que receberam a informação dos pais o chamarem de frangueiro, talvez ao deitar no caixão, tenha tido o melhor descanso, o descanso eterno.

Como Caim, ninguém mais colocou nome em filho de Barbosa, apenas os que por obrigação de sobrenome o conduziam faziam questão de informarem não ter nenhum parentesco com o goleiro da seleção. No Brasil ser vice é algo simplesmente deplorável, triste, asqueroso, ser o ultimo colocado é muito melhor do que ser vice, ultimo é esquecido em um mês, vice nunca é esquecido, aqui não existe nem nome de rua com vice, e até hoje o brasileiro não sabe o que um político vice faz, por isso ao levar o gol e alem do mais ser vice, Barbosa nunca foi perdoado.

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